sábado, setembro 23, 2006
Ostras
Ora aqui vai uma bonita e importante lição de história que versa sobre o tema da ostra. Podem parar de rir e franzir o sobrolho como quem acha este post coisa de malucos. Não imaginam a quantidade de coisas importantes que os portugueses, nativos de uma zona mui propicia à ostra, deveriam saber.
Cá vai disto? O que nunca imaginaram saber sobre a ostra:
Na Roma antiga as conchas destes adoráveis e comestíveis crustáceos, que até pérolas podem dar, eram usadas como boletins de voto: daí a famosa expressão ?votado ao ostracismo?, quando se votava a favor da expulsão de alguém de Roma e, da consecutiva expropriação da vitima de ostracismo, de todos os seus bens.
Apesar dos revezes da década de 70 a ostricultura não parou nesta pátria de D. Afonso Henriques. As águas dos estuários da Ria Formosa (Algarve) e Rio Sado (Setúbal) têm características propícias à criação destes crustáceos. Em cerca de 8 meses, estes seres atingem o peso ideal (aproximadamente 90 gr.) e estão prontos a consumir. Mesmo que cheguem de outros pontos do mundo com um tamanho mais que diminuto, enquanto embriões ainda. Mesmo nas melhores águas de França, não se pode contar com menos de 24 meses até chegarem a esta dimensão.
Em França, ocorreu por meados de 1800 uma súbita escassez destes crustáceos, que levou à importação das mesmas, do nosso Portugal. As ostras que Pairavam por França eram achatadas e diferentes das nossas, a nossa era denominada ostra oca, não porque não tivesse dentro da casca um de entre os melhores frutos marinhos do mundo, mas porque a casca era redonda e alta, não sendo achatada e, contendo o corpo molusco da ostra no seu interior espaçoso.
Em 1868 dá-se um curioso episódio marítimo, que além de ter feito história, deu o seu contributo para as ciências naturais e, para a alimentação dos europeus. O navio ?Morlaisien?, para escapar a uma tempestade, sendo apanhado por esta numa travessia com ostras de Setúbal importadas por França a Portugal, refugia-se nas tranquilas águas do Sul de Bordéus. Tendo escapado da tempestade, a carga não sobreviveu, porque o tempo fez das ostras cadáveres. O Capitão acabou por atirar as ostras borda fora, dado o facto de estarem impróprias para consumou. A verdade é que nem todas estariam mortas e, estas que permaneceram vivas começaram a reproduzir-se a uma velocidade muito superior às nativas de Arcachon. Os franceses carinhosamente apelidaram-nas de ?les portugaises?, imortalizando o episódio e, as ditas ostras.
Com a ajuda de uma epidemia animal (vírus) e com o fim da primeira Grande Guerra, as ostras francesas quase foram dizimadas, tendo as ?portuguesas de Arcachon? sido as Rainhas da mesa até 1966, altura em que os vírus encontraram o caminho até às nossas ostras. O negócio português foi ao fundo.
Com o tempo, as coisas recompuseram-se, mas durante anos e anos as nossas ostras foram afastadas e proibidas na fausta culinária francesa.
O que a natureza tem de bom, é que sempre cuida das suas preciosidades. E como quem não quer a coisa, sarou o mal das ostras. As portuguesas encontram-se entre as mais genuínas e apaladadas do mundo! Orgulhosos? Muito!
Existem actualmente novas e saborosas formas de cozinhar e preparar as ostras, mas o que realmente importa é que a produção de ostra nacional terá novamente assento em Paris, dia 5 de Outubro (coincidência de datas bastante curiosa?), sendo dadas a degustar ao público mais exigente.
O Puro Veneno deseja bonne chance às nossas ?portugaises? em Paris.
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