quarta-feira, maio 31, 2006

Encerramento das maternidades

O encerramento das maternidades é um assunto sobre o qual me deveria imiscuir; mas o facto é que, com tanta publicidade e suposta explicação verídica, todos nós nos sentimos um bocadinho tentados a opinar também?

O caso de Barcelos já foi sobejamente badalado, mas Elvas e Santo Tirso; por exemplo não. O estudo feito pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENPS), que fez a análise dos indicadores dos 50 Hospitais, com blocos de partos, existentes no país, ao longo de 5 anos (2000 a 2004), dia que as 11 maternidades que o Governo pretende encerrar por falta de segurança não são aquelas que apresentam os piores resultados na Qualidade dos cuidados prestados às gravidas e aos recém-nascidos. De facto dá que pensar! É no mínimo curioso... Diria qualquer leigo e com razão.

Posso adiantar que o Hospital de São João no Porto, lidera a tabela das unidades com maior mortalidade no parto. Situação inversa, encontramos o Centro Hospitalar de Coimbra relativamente aos partos e, o Hospital de Santa Maria no que concerne aos recém-nascidos. Estas duas instituições apresentam os melhores resultados.

Convém salientar que, neste caso, não foram analisadas as condições que cada maternidade dispõe, nem os procedimentos técnicos que adopta, mas apenas os resultados alcançados. Para meu espanto e creio que de muitos mais portugueses, os hospitais com piores ou menos infra-estruturas e recursos, nem sempre apresentam os piores desempenhos no atendimento às grávidas e recém-nascidos. Não deixa de ser importante constatar que é exactamente neste argumento que o Ministro se baseia para encerrar maternidades?

No caso de Elvas, os dados mostram que a maternidade apresenta a maior percentagem a nível nacional, de grávidas transferidas para outras unidades com resposta a partos, decorrentes de complicações, sendo o valor de 1,3%. No entanto, há 14 maternidades com índices superiores de mortalidade no parto. Será que devemos concluir que estas transferências evitam mortes e não falta de capacidade. Talvez aumentando a taxa de mortalidade nos partos existissem menos transferências, como se passa nos outros 14 casos. Será que é este o triste resultado a esperar do espectáculo que o Sr. Ministro está a fazer o favor de montar? Se assim for, só lamento e espero que bata à porta dele também? As vezes o destino faz das suas? Pode ser que entre os deles alguém se depare um dia com esta triste realidade e o Sr. Perceba o que está a fazer! Nem sempre ter dinheiro permite chegar mais longe na hora de nascer?

Quanto a Santo Tirso tem uma mortalidade abaixo da média, encontra-se em 22º lugar no ranking, ocupando o mesmo lugar no caso das complicações registadas. Em Barcelos, os casos que chegam ao bloco de partos têm um índice de gravidade baixo, como aliás foi debatido na RTP 1 segunda-feira á noite, apresentando-se a meio da tabela no que diz respeito às complicações registadas no parto.

A concentração dos partos permite algo que não é o essencial mas que é muito importante, segundo o Sr. Ministro: racionalizar os poucos recursos existentes, profissionais e financeiros. Claro está que toda esta racionalidade económica está a começar a ter um cordão umbilical gigante? Para não falar na fome que se gera no feto devido a estrangulamentos na placenta?

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