quarta-feira, janeiro 17, 2007

Actos Médicos: privado vs público


Há poucos dias lia um interessante artigo de opinião num jornal, neste caso, de um leitor. O leitor falava de algo que muito poucos se apercebem, mas que é um facto: a diferença entre os cuidados médicos providenciados num qualquer estabelecimento particular e num qualquer estabelecimento público.
Normalmente, o comum dos mortais olha para as estatísticas, que mais não são que números e, números que não podem ser transformados em dados cruzados com muita informação não passam disso mesmo, números, e acha que a assistência médica privada é que é boa. Não censuro absolutamente ninguém. Até compreendo!
Conclusões dos números a frio: satisfação relativamente ao tempo de espera é de certeza muito maior no privado, satisfação relativamente à atenção dada ao paciente é maior no privado, condições para o doente/ família/ acompanhante/ médicos e restante profissionais são melhores no privado, equipamento e tecnologia em termos de aspecto e propaganda é convincente no sector privado... Taxas de sucesso maiores no privado e... taxas de mortalidade inferiores no privado. Para onde é que o caro leitor/a ou amigo/a iria? Para que perguntar, certo? PRIVADO!!!!!!!!!!!!!!
Mas se pararmos um pouco e analisar-mos bem a situação, cruzando todos os dados disponíveis apercebemo-nos de que fomos vítima de um falácia! Pois é! É que no privado, os actos médicos praticados são escolhidos 'a dedo'. Se o risco ou a possibilidade de insucesso forem elevadas o quanto baste, estas instituições já não aceitam realizar os actos médicos acima descritos (com risco e possibilidade de insucesso). Primeiro e mais grave dos enganos... É que no privado não se salvam mais vidas nem se têm maior sucesso, escolhem-se os actos a praticar.
Os Hospitais e Institutos Públicos possuem os melhores especialistas... Fruto das horas e horas de trabalho a fio e de toda a inacreditável panóplia de situações que se lhes apresenta. Não há nada que estes profissionais não têm visto. Não há nada que não saibam mais ou menos como contornar. Logo, numa situação de aflição, pânico ou perigo extremo, a capacidade destes salvarem salvarem vidas é muito superior à dos do privado... Salvo alguns casos que os haverá, que é igual.
Quanto ao aparato, eu não preciso de beleza nem de bom cheiro, se bem que isso me agrade, nem sequer preciso de sorrisos e simpatias, eu preciso de soluções para os problemas que possa ter. A verdade é que é chato estar numa fila e eu posso estar bastante mal, e pode doer-me imenso alguma coisa... Tudo isto pode ser assim mesmo, aliás, pode até ser pior, posso ter algum 'mal' perfeitamente visível e ter que esperar uma oportunidade para ter atendimento. Eu sei que sofro, o médico/a também o sabe, não me tira a razão, mas lá está, se o acto médico de que vou ser alvo não for praticado neste minuto eu não morro, mas há casos mais urgentes que o meu! Evidentemente que existem casos de má triagem e má avaliação, prática de actos médicos incorrectos ou insuficientes que em ultima instância levem o paciente à morte, mas isso acontece porque toda a gente 'cai' ali .. Não é fácil!
O erro é uma característica inerente a ser-se humano, como tal, o erro médico existe e apesar de julgar-mos esse erro com todas as nossas forças e emoções quando ele se prende connosco , o facto é que há momentos em que os médicos são Deuses de bata branca, com a vida dos outros nas mãos e, só por isso, são dignos do nosso respeito.
Eu não posso avaliar um acto médico, não tenho conhecimentos para tal, não posso saber se foi correcto ou admissível ou, se foi errado e lamentável... Posso apenas avaliar mediante o resultado/ consequência e os sentimentos que me causa: felicidade, aceitação, fúria, dor, abnegação... O facto é que somos incapazes de julgar alguém que 'perde' um ente nosso sem imparcialidade mas, somos capazes de julgar parcial e positivamente alguém que nos resolve um 'drama' particular ou familiar.
Por isso, quero apenas deixar aqui estes dados e salientando, mais uma vez, que os médicos erram, que poderiam ter evitado 'isto ou aquilo' e que forma negligentes e que se calhar no privado seria diferente, se calhar não... Poderia ser pior ainda.
Claro está que não estamos aqui a falar de estética e afins... Mas ainda neste ramo, os médicos dos Hospitais e Institutos públicos não têm 'tempo' para tirar rugas e compor barriguinhas... Compõem sim grandes estragos e coisas graves, chegando há obra arte não para fins de vaidade estética e corrida contra o envelhecimento mas por danos inacreditáveis, que deixariam as pessoas com uma apresentação 'menos bonita' e dramática para o resto das suas vidas...
Por isto tudo e muito mais, devemos respeitar estes profissionais e não cair em críticas fáceis a todo o momento.

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