domingo, março 04, 2007

Santa Comba Dão e Museu Salazar

(Santa Comba Dão)

Pois é, lá está, não há necessidade nenhuma de esconder o Sr., o grande problema é da história, ainda não se passou tempo suficiente. Ainda há muitas feridas abertas! Um dia, tal como as estátuas e palácios dos reis absolutistas não foram baixo, também se poderá colocar Salazar onde se bem entender, mas só quando o 'fastasma' estiver bem morto e enterrado. Neste momento apenas o homem, António de Oliveira Salazar está bem morto e enterrado; o seu fantasma ainda assombra muito boa gente, pelas piores e pelas 'melhores' razões, por isso não há como ter clama.

Não me recordo de alguém ter querido retalhar a múmia de Lenine ou de a fazer desaparecer. Salazar fez parte do nosso dia-a-dia e faz parte da nossa história, não vale a pena negar ou 'renegar'. Foi uma espécie de absolutista... Não lhe consigo chamar ditador! Especificidades técnicas provavelmente... Mas não é nada de mais! Franco ou Hitler foram casos bem diferentes do nosso ‘rapa tachos’. Compreendo que as vítimas dos PIDES e respectivas famílias odeiem a ideia de alguém pensar em fazer um ‘Museu’ a tamanha criatura. Provavelmente quem algum dia passou pela ‘frigideira’ no Tarrafal não tenha a menor paciência para ouvir falar nem no nome, mas não me consta que sejam sequer esses que se estejam a manifestar.

Salazar não volta, nem a sua política, nem a sua polícia, nem os seus delatores. Não é que agora não ande ‘todo o cão com pulgas’ e mais um a ser escutado e devassado… Há coisas que não mudam, ficam entranhadas na maneira de ser e de estar de um povo… Nem com silit bang (ou que raio é isso). Ficou-nos no jeito! Somos fracos nesse aspecto, somos francamente débeis. Não é o Museu que trás Salazar de volta, a memória do político estará sempre com o povo e será tanto mais marcante quanto as gentes que vivenciaram a experiência do período salazarista permanecerem vivas. Com o tempo tudo será um episódio da história, um momento distante, um capítulo dissonante do nosso ‘espírito humanista’. Não há como evitar. Não podemos parar a ‘marcha’ do tempo e o evoluir dos acontecimentos. Algumas gerações preservarão as piores memórias acessas dentro de si, pelo que as famílias lhes transmitem, mas perderse-á a força destas convicções. É um facto e quanto a isso nada feito; contudo, nada disso fará de Salazar uma figura idolatrada. A história não transfigurará a face da realidade mas não viverá de animismos.

Mas a ‘luta continua’ em torno do Museu, indiferente ao tempo e ao que este fará. Em Santa Comba Dão já emergiram confrontos. De um lado os defensores de Salazar, do outro os defensores da liberdade. Os primeiros gritavam pela preservação da memória do homem e político e pelo filho a terra a ser lembrado, dizendo aos segundos que o 25 de Abril é só daqui a um mês. Isto é que é ridículo. Movimentos fascistas e de extrema-direita, gentes da terra, tudo ao molho e fé em Deus por Salazar! O homem não precisa que o defendam… Haja paciência! Uns cantavam Zeca Afonso, outros gritavam a plenos pulmões que parassem de os provocar e voltassem lá para de onde vieram com as histórias da liberdade e do 25 de Abril. Santa Comba Dão já andava em frente e já virava umas quantas páginas da história, francamente! Qualquer das formas um Museu já mais será um masuleo do saudosismo cinzento de Salazar, será um local onde factos e protagonistas da história estarão parados no tempo; nada mais; não os trás para o presente.

Não há motivo para nada disto, só serve para manobrar distracções e levantar da tumba o morto. Deixem o homem e o políticomorrerem juntos e em paz, de uma vez por todas e, espete-se a estaca de madeira no coração do vampiro. É hora de acabar com o Salazar opressor que até depois de morto provoca confusões. Deixemos o Museu sossegado, servirá para dizer aos nossos netos e bisnetos que existiram episódios menos bons na nossa história e que podem e devem ser conhecidos, para que jamais se repitam. Conhecer o estado Novo é diferente de fazer do mesmo um estandarte. Um Museu não é propaganda fascista nem Goebbels (ministro da propaganda nazi) foi contratado. deixemo-nos de extremismos.

Como se pode ver pela imagem, Santa Comba Dão já existia bem antes de Salazar, sendo mesmo anterior à Reconquista Cristã, surgindo como primeiros documentos duas cartas de doação, datadas, respectivamente, de 974 e 975 e, a 12 de Setembro de 1514, D. Manuel concede a Santa Comba Dão a sua carta de foral e sabem que mais, continuará a existir muito depois dele.

Pelo sim pelo não, eu alinho com os defensores da liberdade e vou trauteando Zeca Afonso...

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