domingo, fevereiro 04, 2007

Ao Ministro Manuel Pinho,


Eu pensava, como qualquer cidadão de plenos direitos e deveres, que fazia parte de um país do primeiro mundo, ainda que não do pelotão da frente... Aceitava até com alguma serenidade a necessidade de um 'milagre japonês' à nossa medida e o compasso de espera e reflexão que nos é exigido para encontrar como dar o nosso salto tecnológico. Não seria fácil, sendo Portugal uma país pequeno, cuja localização privilegiada 'rouba' consciência cívica e potencial de produtividade , com falta de empreendedores e empresários há altura da marcha do progresso mas que apesar de fazer as coisas erradas, tarde e más horas e andar sempre aos trambolhões , lá recebe uma ajuda da mãe galinha U.E . e lá se vai aguentando esta bonita pátria de D. Afonso Henriques... No meio disto tudo guardava uma esperança secreta. Não foi há toa que navegámos pelo mundo antes de todos os outros, não foi há toa que fomos os únicos colonizadores que se miscigenaram com os 'locais'... Já fomos o padrão de progresso e conhecimento, não na medida de um Império Romano, claro está... Talvez aquém das grandes civilizações Maia e Inca... Mas ao jeito dos tugas ', com o ouro do Brasil, o comércio com o oriente, as descobertas... enfim, nem sempre estivemos bem mas dos piores fomos os menos maus.
Mas isto tudo para falar do choque individual e creio que de certo modo nacional, que em nada se pode comparar ao ambicionado choque tecnológico, que foi ouvir o Ministro Manuel Pinho chamar aos salários baixos uma vantagem competitiva! Nas mãos desta 'elite' governativa só podemos dar graças a Deus por não termos diamantes no solo, se não a Serra Leoa era um exemplo de honestidade, seriedade e disciplina... creio que foi uma benesse da mãe natureza deixar-nos desprovidos de petróleo , diamantes e coisas afins... É caso para dizer que há males que vêm por bem. Creio que teríamos toda a espécie de flagelos sociais, guerras, epidemias, pandemias e um PIB per capita abaixo da Somália, para juntar a tudo o que já sabemos que temos de mau sem qualquer uma destas riquezas naturais para disputar.
Estamos todos demasiado apáticos, caso contrário este senhor, após proferir tão bárbaras palavras estaria afastado do cargo de Ministro das Finanças (ou qualquer outra pasta) para todo o sempre, enquanto na humanidade existisse memória destas suas palavras. Não que o dito cujo tenha dito alguma mentira, porque os salários por cá são um vergonha e uma miséria. Talvez esteja na altura do nosso caro José Sócrates , que tanto aprecia os modelos nórdicos, se dedicar a pagar salários segundo os intervalos de vencimentos nórdicos e então aí que cobre impostos à altura dos mesmos. Era muito bom o fim desta pátria de corruptos... Uns são corruptos porque são pobres, outros são corruptos porque são ricos... Um verdadeiro 'desconcerto do mundo' como diria Camões.
Meu caro Manuel Pinho, era interessante que se apercebesse que um salto tecnológico requer gente preparada e paga à altura, que não trabalha por uma tigela de arroz... Talvez tenha sido o 'calor do momento' da visita às paragens dos olhos em bico que o tenha deixado crente que a desgraça dos trabalhadores e desempregados portugueses é tanta que até quem trabalhava por uma tigela de arroz já tem melhor nível de vida...




Meu caro Ministro, creio que se esqueceu de dizer que por cá as crianças também trabalham e, assim como assim, cobram salários ainda mais baixos que os adultos e, caso os senhores chineses não acreditem podem contactar o grupo da Zara e perguntar quais foram as fábricas de cozer calçado, no Norte do país, com as quais rescindiram contrato porque fingiram a surpresa de não saber que as crianças os cosiam... Podem até pedir logo os contactos... Se as bolas de futebol do mundial já puderam ser cozidas por crianças não deve ser assim um crime tão grande...
Portugal sente vergonha de ter um Ministro destes...

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