terça-feira, maio 22, 2007

Clipper Cutty Sark ardeu

(Ferreira/ Maria do Amparo antes do restauro que fez dela a Cutty Sark, ainda portuguesa, em 1922)

Caros leitores e amigos, podíamos com isto dizer que os ingleses são incapazes de "tomar conta" seja do que for . Se pensar-mos nos filhos, bem, conseguem vir "perde-los" para o nosso país, porque caso não tivessem sido tão negligentes, Madeleine ainda estaria no seio da família a que pertence. É evidente que as crianças não "somem", ouve mão criminoso, mas também, os pais facilitaram a coisa até dizer que chega. Por estes dias até já se provou que não foram nada verificar se as crianças se encontravam bem. Podemos dizer que afinal a baby sitter custaria 12€ por criança, mas dinheiro não me parece ser o problema deste sui generis " casal. Se nos voltar-mos para o último dos clippers (navios da rota do chá), percebemos que o deixaram arder. Talvez combinando os casos, com um pouco de criatividade, conseguimos convencer a opinião pública de que o Cutty sark deveria estar à nossa guarda.

Estes ilhéus da Grã-Bretanha são uns verdadeiros incapazes. Esta incapacidade transtorna-me seriamente quando ao "barulho" podemos encontrar um pedaço de história portuguesa. Este admirável tesouro dos mares, Trata-se de um "escorpião" que saiu dos estaleiros pela primeira vez em 1869, aos 22 dias do mês de Novembro e, fez a sua viagem inaugural de longo curso a 16 de Fevereiro de 1870 entre Londres e Xangai. Eram navios "rápidos", tendo este mesmo concluído a sua viagem inaugural de longo curso em 104 dias (uma espécie de Obikwelo dos navios), o que era fabuloso para época (apesar de já se ter percebido que os navios iam fazer passar aos anais da história no que remete para algumas das funções que asseguravam caso não fosse a vapor). Estes clippers não eram ainda a vapor, dependendo das velas e do bom tempo para prestarem os seus "serviços" náuticos . O motivo da minha revolta pelo incêndio que consumiu boa parte desta maravilha dos sete mares é que, durante 27 anos, esta embarcação ostentou pavilhão português, quando os "snobs" de sua majestade entenderam que não teriam mais préstimo para um monumento sobre as águas.

Enquanto navio português navegou frequentemente entre Lisboa, os Açores, Moçambique e Angola. Esta peça monumental já conta 138 anos e, desde Novembro último (deve ter sido prenda de anos) encontrava-se encerrado ao público por motivos de conservação, pois era urgente operar obras de conservação no casco do "velho" clipper , que se encontrava deteriorado , consequência do transporte de carvão, guano, madeira, trigo e até arroz, que durante a sua longa vida de navio "activo" sempre realizou com "brio" e mérito.

Aparentemente a estrutura do navio encontra-se intacta e o estrago só não foi maior porque uma parte considerável do navio se encontrava retirada do mesmo por motivos do tal restauro, que podemos chamar, providencialmente, de "abençoado" restauro.

Verdade seja dita, esta preciosidade veio para mãos portuguesas em 1895 para o armador Joaquim Antunes Ferreira, que até 1922 não lhe deu descanso nem "reforma". Enquanto português ostentou dois nomes: Ferreira e até, mesmo, Maria do Amparo (que acredito não ter feito as delícias da embarcação, mas então...). Em 1922, já antevendo o valor do navio e provavelmente sentindo saudades de possuir um clipper "verdadeiro", dos que rumaram ao "próximo oriente" e transportaram o tão maravilho chá, que os súbditos de sua majestade tanto adoram e, mais importante que isso, aprenderam a beber e a apreciar com uma portuguesa , D. Catarina de Bragança , Rainha de Inglaterra, readquiriram o Maria do Ampara por um valor muito superior ao que na realidade tinha. Na época talvez tenha sido bom, não sei se saberíamos dar-lhe o valor que tinha e se poderíamos conservá-lo como merecia; porém, como nos dias que correm "vale tudo", até apetece reclamá-lo e dizer que se não sabem tomar conta dela, nós tomamos.

Pensa-se que o fogo possa ter tido origem criminosa. Se esta possibilidade se vier a verificar, espero que o/s reponsável/eis sejam exemplarmente punidos. A empresa proprietária está confiante que voltará a ser o mesmo Clipper de sempre; disso felizmente estamos seguros, será recosntruídos. Nos seus longos 138 anos já passou por muito mas creio que nem nos seus piores dias de enjoo em alto mar lhe ocorreu que um dia, quando fosse um tesouro da Humanidade, um pedaço de história, iria ver-se em chamas, no porto de Greenwich, em plena madrugada. Não dá para acreditar, nem para o mais doido dos cidadãos, quanto mais para um ajuízado navio; isto se navio pensasse ou sentisse, claro!

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