domingo, maio 06, 2007

Mãe

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Mãe - que adormente este viver dorido,

E me vele este noite de tal frio,

E com as mãos piedosas até ao fio

Do meu pobre existir, meio partido...

Que me leve consigo, adormecido,

Ao passar pelo sítio mais sombrio...

Me banhe e lave a alma lá no rio

Da clara luz do seu olhar querido...

Eu dava o meu orgulho de homem - dava

Minha estéril ciência, sem receio,

E em débil criancinha me tornava,

Descuidada, feliz, dócil também,

Se eu pudesse dormir sobre o teu seio,

Se tu fosses, querida, a minha mãe!

Quental, Antero de in "Sonetos Completos"

Neste soneto que escolhi para dedicar a todas as mães, que mais uma vez tenho plena consciência de ser uma "estranha" escolha, mas não podia deixar de ser... Fala-se da imagem da mãe para o filho, da essência de ser mãe; no fundo, do que a mãe dá ao seu filho e do que a mãe é aos olhos do filho. Não nos fala da sua própria mãe nem de uma vicência. Normalmente, o poeta que retrata a mãe fala de si e da sua, ainda que, indvertidamente. Antero transcende, com este soneto, o homem do ideal, o grande filósofo e pensador, mostra o seu lado mais Humano, dando-nos a conhecer a sua ideia do que é ter mãe. Provavelmente relaciona também esta "declaração" a uma mulher com a sua experiência de ter mãe, do seu "eu" infantil. Antero não remete nunca, a meu ver, para a infância, remete para aquilo que cada um de nós, por maior que seja, pode "ser" enquanto junto da mãe. Fala em voltar a ser criancinha, mas no sentido de poder demonstrar a sua debilidade, de ser cuidado, da ternura e da doçura a que se permite junto de uma figura que possa entender como "sua mãe". Lembra-nos a felicidade que se vive quando alguém nos ampara e vela por nós, cá neste mundo, mas não um alguém qualquer, uma mãe!

No fundo, Antero espelha tudo o que entende por mãe e, estou certa que muitos denós, também entendemos. esta é claro a minha humilde interpretação do poema de Antero e a justificação de tão "grave" escolha.

Fica-nos a pergunta do porquê de tanto sentimento grande espelhado numa mulher e não o traduzir na escolha desta mulher para a mãe dos seus filhos. poderia ser um sentimento platónico nutrido por Antero; mas poderia ser também a comprovação do velho ditado: - "Não deixes que te compare à mãe" (para que não fiques mal... E para que não se esqueça da mulher no sentido físico). Digamos que não saimos daqui... Vamos apenas apreciar o poema de Antero e interpretar, cada um de nós, as palavras e a composição poética, á sua maneira.

Mães de todo o mundo, façam o favor de serem felizes!

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