Se disser que o caso das mulheres na Administração Pública (AP) é diferente do que se passa no privado, minto! A realidade é precisamente a mesma. Não que em todos os casos existam mais mulheres que homens no global da organização, mas o facto é que por mais mulheres que façam parte do "corpo" da organização, nos lugares cimeiros são os homens que se encontram em maior número. A proporção na AP portuguesa é de mais de 50% de mulheres (60 e tanto por cento) no "todo" e, conforme se sobe na hierarquia, a representatividade das mesma decresce. Dos 100% de cargos de topo existentes na AP apenas 32% são ocupados por mulheres. Relativamente ao todo este número é vergonhosamente pequeno.
Bem sabemos que não é porque as mulheres têm filhos, mas também é (apesar da crise de bebés que atravessamos, aqueles 5 meses possíveis para a licença de maternidade são fatais), não é porque fazem uso da figura da assistência à família com maior frequência que os homens, mas também é, não é porque geralmente deixam os filhos na escola de manhã, mas também é, não é porque os vão buscar entre as 18 horas e as 19, mas também é... Ou seja, bem vistas as coisas, não saímos deste é e não é que acaba por ser mesmo!
Apontam-se dedos aos sentimentos de culpa que parecem, de repente, estar relacionados com o gene feminino, mas para mim, não passa de mais uma desculpa de "mau empregador"! Não é certamente porque se sente culpada que a mulher sai do emprego e vai brincar com os filhos ou ajuda-los a fazer os "deveres" enquanto o pai ainda (supostamente) se encontra a trabalhar; é porque o pai ganha mais que a mãe (regra geral mas há as excepções) e é logo aí, na letente discrimiação salarial que é tão gritante no nosso país que mais vale ficar o "papá" a trabalhar que a "mamã". Ainda que o "papá" possa não receber horas extra, porque se as receber já valem mais dinheiro que as da "mamã", certamente vai contar para aquele prémio de productividade que é sempre entregue ao sexo masculino ou, para aquela promoção que leva à obtenção de horários flexíveis ou a uma aumento, que é sempre bem vindo.
É evidente que o mal está na nossa mentalidade e não no gene feminino, mas enquanto virar-mos as costas a tudo isto, não conseguiremos endireitar o mundo para que a igualdade de direitos entre homens e mulheres seja uma realidade. Não me parece que os homens que se encontram entre os quadros superiores gostem de ser "estereotipados" como aqueles que não brincam com os filhos ou só o fazem ocasionalmente e, caso assim seja, deixem-me informarvos meus caros senhores, que estão a perder uma significativa parte da vossa existência, e que esta parte (justamente) é de uma beleza e complementariedade humana indescritiveis. Um filho é parte de vós também; se querem um conselho, não abdiquem dele!
Até que o facto da licença de parto deixe de ser estigma vão-se passar muitos anos, nem sei se será para os "filhos" dos pais desta geração, mas estou certa que um dia, no futuro, o obstáculo se ultrapassará. Até lá, resta-nos lutar por tudo de grande e belo que é ser mulher. Cabe-nos a todas nós mostrar que o gene feminino é uma benção e não um estigma. Ser mulher é ter o dom de colocar homens no mundo e isso, meu caros amigos e leitores, diz-nos tudo! Cada um sabe a dor e o prazer de ser o que é...
Sem comentários:
Enviar um comentário